Vivemos dentro de uma cultura que idealiza os fortes e rechaça os fracos. Aprendemos desde sempre, com exemplos muito claros e estampados na natureza, com os animais, e até mesmo com as plantas, que somente os fortes sobrevivem.
Entre os seres humanos, então, isso é reforçado desde os mais remotos tempos, desde que morávamos nas cavernas. E assim veio se cultuando, cada vez mais, a força, a coragem, o “ser destemido”. Por conta dessas crenças a maioria procura nem sequer se dar conta dos seus medos particulares.
Quando perguntamos: "de que você tem medo?", costuma-se pensar antes de responder, e muitas vezes as pessoas desconhecem seus próprios temores.
As crianças são mais espontâneas, mas também se deixam dominar mais facilmente pelo medo do desconhecido.
Segundo definição do Aurélio, medo é um sentimento que proporciona um estado de alerta, demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, geralmente por se sentir ameaçado, tanto fisicamente como psicologicamente.
O medo, portanto, pode ser um aliado, funcionando como alerta, dizendo "cuidado, você está correndo demais, então é prudente aliviar o pé do acelerador". Nesse caso, pode ser o medo de sofrer um acidente ou de levar uma multa de trânsito, que qualquer maneira funciona como um alerta positivo.
Muitas vezes os medos estão atrelados a alguma crença de fracassar diante de uma situação. O medo de falar em público, por exemplo. É possível que nesse medo esteja implícito o receio da rejeição, da não aceitação ("o que os outros vão pensar?"), o medo de ser desaprovado.
O medo é sempre uma reação, seja a um estímulo externo ou a um sentimento interno, provocada pelo desconhecimento real de uma situação. Pode se tornar um grande problema quando essa sensação de alerta ocupa um espaço excessivo na vida, por meio de pensamentos recorrentes e ameaçadores, que preenchem a mente de maneira incontrolável. Em situações assim, o medo deixa de ser considerado racional, devendo ser tratado como fobia, já que esse tipo de dificuldade começa a limitar as atividades cotidianas.
A sensação do medo interrompe o processo cognitivo. Numa situação de perigo iminente, ou num susto, desencadeia-se o estresse. Essa sensação faz o hipotálamo liberar adrenalina e noradrenalina no sangue, além de tantos outros hormônios liberados pelo córtex cerebral adrenal que são necessários para preparar o organismo diante de uma situação ameaçadora. A liberação de hormônios gera outra reação física: a pressão arterial e a freqüência cardíaca aumentam, as pupilas se dilatam, as artérias da pele se contraem, a glicose sanguínea diminui, os músculos se enrijecem e a concentração diminui significativamente. Toda essa reação física impede que o pensamento flua normalmente enquanto durar a sensação do medo.
Para encontrar soluções, portanto, é importante fazer uma auto-avaliação dos medos e buscar trazê-los à luz da razão. Visualizar explicações plausíveis, questionando: o que realmente eu temo? Esse medo é real? Existe um fato, um objeto ou uma situação que ofereça perigo? De que maneira posso resolver ou minimizar estes inconvenientes?
Enquanto os medos puderem ser administrados racionalmente, a melhor maneira de eliminá-los é enfrentando-os. Porém, se os temores forem excessivos, tomando proporções alarmantes e irracionais, o medo se torna um grande inimigo, um carrasco cruel, que impede a tomada de atitudes antes consideradas normais e corriqueiras. Bloqueia o avanço rumo ao sucesso e passa a desencadear doenças, tornando-se um complicador nas relações humanas. Nesse caso, é necessária a presença de um profissional para auxiliar terapeuticamente, avaliando as particularidades e a gravidade da situação.
Maria Pohlod